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quarta-feira, 7 de março de 2012

Padrão Globo no Jornal da Globo

Alguns aspectos do tipo de divisão editorial aplicado pela TV Globo têm ficado mais claros nos últimos tempos: o Bom Dia Brasil é o jornal das variedades, hora de limpar a cabeça. O Jornal Hoje completa o serviço. Mais tarde, depois da convulsão de novelas, vem o Jornal Nacional, que faz a sua parte esvaziando os fatos, diluindo-os uns nos outros. Por fim, O Jornal da Globo parece uma espécie de espaço editorial da Rede Globo. É sobre este último o post de hoje.
Telejornal que me parece o melhor acabado tecnicamente da TV Globo, com algumas boas matérias culturais e coberturas um pouco mais profundas e muito mais analíticas que os demais, o JG historicamente é o mais conservador da vênus platinada. E essa característica vem se agravando, em especial à medida em que iniciativas de esquerda voltam a impor-se como questões para debate.
Na edição da última terça-feira (09/02), por exemplo, dois assuntos em relação aos quais o Jornal da Globo costuma dar muita atenção foram abordados: a questão agrária brasileira e o presidente venezuelano Hugo Chávez. O jornal, é claro, teve o posicionamento costumeiro: “a questão agrária”, para eles, é o problema da “insegurança no campo” que atinge os pobres grandes latifundiários, e o presidente da Venezuela é um ditador maluco que a toda hora aparece com “a última de Hugo Chávez”.
Aí vem a criminalização constante, virulenta e manipuladora dos movimentos sociais e a serie de ironias e deboches contra Chávez, incluindo o desrespeito indireto pelo povo que o elegeu e o reelegeu e o apóia. A “crítica” a Chávez e aos movimentos sociais – e a forma absolutamente desrespeitosa e anti-democrática como essa crítica é feita – são apenas um pequeno pedaço da podridão que chega a cheirar pela TV a cada edição do jornal apresentado por Cristiane Pelajo e William Waack e co-habitado por Arnaldo Jabor, editorialista não-oficial da Rede Globo.
O Jornal da Globo é tecnicamente excelente, tem boas matérias culturais – incluindo um ótimo colunista, Nelson Motta – e costuma escolher suas pautas com precisão, destacando assuntos realmente interessantes e os abordando com uma certa profundidade e viés analítico. Acontece que faz tudo isso para torcer e retorcer com mais precisão o real significado desses fatos dos quais trata. Reflete ali as posições que a Rede Globo apenas sugere em seus outros telejornais. O JG fecha o ciclo, escondendo a verdade atrás de textos debochados e que desrespeitam os atores sociais e a inteligência do telespectador.

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